Confessionário - Esquina do Café

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sábado, 21 de dezembro de 2019

Confessionário

O cenário é escuro, são seis da tarde de um dia de inverno e as luzes do confessionário estão desligadas. Encontra-se o padre de um lado e a mulher no outro. Ela veste branco mas está de luto, o marido morreu no Ato I com a amante do lado direito e um tiro no peito.

"Serei menos mulher senhor padre? Por não lhe sentir a falta na luz do dia mas sinto ao deitar-me na cama com os lençóis se encontram sujos ainda da última vez que fizemos amor, fazendo pecado comigo mesma como se ele estivesse a assistir, ou, a participar? Gemo o nome dele durante a madrugada mas não o consigo chorar... Perdi o homem da minha vida ou terei perdido o sexo da minha vida? Encontro-me confusa, choram mais os meus genitais que a minha alma. Agora duvido todo o significado do meu matrimónio, quis-lo só exclusivamente para entre as minhas coxas e é onde me sinto mais sozinha. Serei menos mulher ou mais humana?" 

O padre não se manifesta, ouve pacientemente as frustrações da mulher, mas sente a obrigação de perguntar:

"Porque usais branco? Tende esperança que regresse dos defuntos?"

A mulher sorri suavemente, meio diabolicamente, meio angelical.

"Porque sou louca, porque aos domingos íamos almoçar com os meus pais e ele carinhoso acariciava-me o intimo e eu usaria branco, como um sinal de livre arbítrio e na menstruação vestiria preto porque era luto que sentia quando ele não me tocava. Agora visto branco porque é domingo e espero que ele desça dos céus para me tocar uma última vez."  

O Padre com receio, volta a perguntar, de modo embaraçado, mais uma questão inconveniente. Parecia estar a apreciar, demasiado para a sua crença, da vida sexual da mulher do confessionário e do seu falecido companheiro.

"E não sente raiva por ele ter pecado com outro nome e sem ter a coragem de o fazer no ambiente de sua casa?"