Foi ela quem avançou com o primeiro toque, ele deixou-se render pelos desejos carnais pendentes pelos beijos entre bafos de um charro e golos de um whisky velho, pelas pausas entre os amassos e as palavras mal sentidas. Foi aquela avenida que os abraçou ao pôr do sol, pele com pele, sem vergonha nem noção plena da censura do ato.
Ele recebia-a de braços abertos, um sorriso de felicidade com um tanto de vingança por ela o ter enfeitiçado pela pressão do seu corpo contra o dele, envolviam-se numa dança para acender outro tipo de chama numa cama que lhes conhecia todos os seus segredos onde a alma dele era remexida sem medos e o corpo deixado num degredo, enredos de momentos torpedos.
Ela deixou-se consumir por cada droga que lhe era apresentada, por cada alternativa ao seu quotidiano vulgar e sombrio. Ele deixou-se consumir por ela. Chegou a pensar até se não seriam os restos de cocaína nos seus lábios desajeitados que o chamavam para aquele vício de rapariga que apenas o empurrava para um abismo emocional. Ele atirar-se-ia sem pensar duas vezes se ela assim o pedisse.
Foi ele que se foi embora, foi ela que o consumiu, foi ela que o matou, não foram os estupefacientes, não foram as noites em discotecas e luzes e sons apáticos à sua volta, foi mesmo a presença dela e nessa presença constante, a sua ausência. Ela tocava-lhe, ele já não a sentia. Ela dizia que o amava, ele dizia que não a podia amar, que já não se amava a si mesmo.
Nesse dia partiu de coração partido, nesse dia morreu ali à porta, nesse dia elevou-se para outro espaço, para uma nova aventura, nesse dia encostou-se a uma esquina e pensou nela, pensou nele e pensou em quem foram naqueles momentos, nesse dia atingiu a dose máxima.
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