Crise dos 40 - Esquina do Café

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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Crise dos 40

A maneira como me inspiras tanto quando falas como quando te despes, deixa-me louco. Onde foste arranjar tanta perícia para que um homem como eu, já com alguma idade e experiência a mais, ficar desarmado? Como consegues voltar a trazer à superfície o adolescente excitado que os dias já envelheceram juntamente da sua mulher e dos filhos?
Conheci-te numa conversa embriagada e nunca senti uma troca de palavras a ser tão estimulante num monólogo como tu o expunhas. Mais tarde, nessa mesma noite, conheci-te de outras formas, e nunca um bafo a whisky velho envolvido com uns lábios Bacardi lemon foi tão controverso.
Eu tenho filhos, sabias? A mais nova ainda fala com dentes de leite debaixo da almofada e faz o som do riso da mãe, a do meio tem a cara por quem eu me apaixonei aos 16 e com quem tenho partilhado teto jaz 20 anos e o mais velho, digo isto embaraçado, não tem os traços do pai que julga ser eu, tem os olhos do meu irmão e os traços do rosto da família, mas não são os meus.
Dormi contigo naquela noite por estar triste entre copos e acabei por trair os meus filhos quando te pus em primeiro lugar por me teres enrolado na tua maneira colegial de falar, na atenção que me deste, nos desejos que me satisfizeste durante o sexo.
Sei que a minha mulher já há muito que não dorme na minha cama, mas a mais nova sim. Nessa noite ela dormiu sozinha enquanto eu esvaziava vontades em lençóis comprados pela tua mãe porque tu ainda não queres saber se dormes numa cama fresca ou enroscada num cobertor que apanhares sem esforço, se dormes sozinha ou não... A minha filha tem pesadelos, acorda aterrorizada e chorosa. Sempre lhe disse para adormecer no meu peito e que quando acordasse iria sentir-me e iria ver que ela era mais forte, mais real que a sua imaginação, que poderia segurar a minha mão sempre que quisesse. Esta noite, quando acordou do pânico noturno, chorou e adormeceu de tanto chorar, como um desmaio de tristeza de uma criança de 5 anos em que o pai escolheu não ficar.

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