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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

talvez fosse tarde demais

Esfregou os olhos assim que se deitou e imaginou o que poderia ter sido a sua vida se ela não lhe tivesse aparecido à frente, se ele não tivesse sentido o mínimo de atração para lhe ir falar e ficar obcecado pelo perfume do seu cabelo. Quis bater com a cabeça na parede com o intuito de a possível dor física ultrapassar a inabalável dor interior que sentia sem qualquer controlo. Mentalmente comparava essa dor como se o diabo lhe tivesse rasgado a alma por cometer o pecado de a querer possuir como um objeto e ser o macho materialista que a sociedade condenava. A diferença entre esta posse e qualquer outra é que, com ela, ele sobreviveria até debaixo da ponte e deixaria se ficar deslumbrado pela beleza dela num fundo com vista para o rio, não teria necessidade de ser dono de mais nada se a pudesse carregar com a aquelas mãos trémulas sem nunca a ter que largar.
Por instantes sorriu na escuridão abafada entre os seus lençóis solitários mas abandonou rapidamente esse pensamento feliz quando as memórias realistas regressaram. Lembrou-se que, na outra noite, quando aceitara ir beber uns copos com os amigos a vira, estava elegante: cabelo arranjado, vestido imaculado... conforme ia recuperando a respiração que ela lhe roubava todas as vezes que o seu olhar a encontrava reparou na figura masculina que se abraçava e apoderava do seu corpo de ninfa. Viu os lábios de outro a roubarem-lhe um futuro que ansiava. Depois daquela noite que passaram sem se dizerem adeus, estava incrédulo...
Voltou a si e sentiu-se vazio.
Talvez fosse tarde demais para ela se deitar no seu peito.
Talvez tivesse sido melhor se a nota que deixara fosse uma despedida amarga para ambos.

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