Outono - Esquina do Café

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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Outono

Numa plena noite de uma estação envelhecida pela humidade e o cansaço transportado pelo vento, decidiste abandonar-me, são e de boa saúde para moer na saudade, sentir a dor, notar a tua ausência. Ela lembra-me que estou vivo e como eu odeio saber da minha própria existência.Conheci-a organizada, bem vestida, tapada de maquilhagem. Conheci-a mas não a conheci. Só a conheci mesmo na manhã seguinte, de cabelo apanhado, cara lavada, envolvida no tecido da minha camisola. Brilhavam-lhe os olhos naquela minúscula varanda, o cheiro a café, o vapor aromatizado acumulado pela casa de banho espalhando-se pela casa… o desfoque do acordar para viver aquela pintura a cores ao vivo. Que bom acordar para ti. Aliás, que bom era! Atualmente, deito-me de lado para que a ansiedade que sinto no peito pareça apenas a pressão do meu corpo sobre mim mesmo. Ainda vejo a tua sombra delicada, despida, a vaguear pelo quarto nas suas brincadeiras. Invejo o chão por tocar na memória que produzo. Invejo o chão que pisas neste momento, onde quer que estejas. Invejo o ar que te deslava o perfume. Contudo, quando fecho os olhos, ouço os gritos e os seus ecos e como eles deixavam a minha mente num estado caótico. Partiste com frio ou encontraste outra fonte de calor para além da minha? Mudaste com as cores da estação ou encontraste uma paleta de cores mais viva que a minha quando estou contigo? Foste com o silêncio de uma manhã mergulhada em orvalho e não voltaste. 


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