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terça-feira, 10 de abril de 2018

ala de psiquiatria

Eu tenho medo, sabe senhora doutora? Não me tenho agarrada a nada excluindo os vícios e o mau gosto por companhias... e tenho medo... receio de morrer de repente, levada por um sopro de vento e depois escuridão... e ainda mais receio tenho de não viver... mas eu não o sei fazer.
Fui me perdendo algures na minha adolescência, entre o desleixo e a obrigação, a tensão sempre me correu nas veias e desta vez levou a melhor, levou-me a calma que me corria na alma.
Eu quero ser arte, ser amor, ser família e vejo o tempo a esgotar-se... adormeço ao som de um tic-tac e acordo com a mesma batida.
O peito aperta-me, como se saltasse uma pulsação no meu batimento cardíaco, e, apetece-me chorar. Porquê pergunta-me você? Porque cada homem me abandonou no momento em que mais o amei e fui sendo forte e sofredora em silêncio, nem a verdade me escorria para o papel que tanto rabisco, juntamente se foi a faísca, a ambição, o amor, a esperança, os motivos que me faziam ansiar por um próximo dia quando me deito.
Eu não os culpo por me deixarem, mas magoa, e à noite é quando dói mais a ausência de cada um deles, e, não os posso trazer nem me consigo livrar das provas da sua existência. Serei fraca ou persistente? Na boca do povo sou louca e é tudo da minha imaginação.
E os que ficaram? Os que ficaram sugaram-me o resto... levaram tudo aquilo que eu tinha para partilhar sem sequer o pedir, porque é assim, há quem tenha tudo para fazer da vida uma brincadeira.
Mas há dias em que me custa respirar, a medicação não parece atenuar qualquer sofrimento e as palavras cortam como tiro em plena praça pública corta o barulho ensurdecedor da plebe... e os segundos seguintes? São os piores, cada silaba se repete como, naquele momento, se ouvem os ecos dos gritos, dos choros, dos lamentos... todos ao mesmo tempo.
Dou por mim em pânico, no meio do escuro, a soluçar, com os olhos a arder de tanto chorar... como se a purga da minha pessoa fosse naquela noite.
Ninguém entende, e estudam-me como se se estudassem a si próprios por o fazer...

2 comentários:

  1. Muito forte. Muito bom!
    Infelizmente (ou felizmente, depende da perspetiva!), sei como é sentir tudo isso.
    Gostei muito! :D

    https://theincompletediary.blogspot.pt/

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