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quarta-feira, 1 de março de 2017

Ela no papel

Gosto de sentir como ela fica no papel, marcada, suave, toda minha como não o é; escrevê-la tal como a imagino sem a conhecer, despida de inibições na presença. Ela não tem que ser perfeita, pelo contrário, a minha tinta no branco não a torna pudica. Rabisco-a cheia de defeitos e pontos fracos para que possa explorar, sem medos, que ela, toda santa, toda demónio, me veja nu.
Gosto de sentir como fazemos amor em cada página sem nos termos cruzado na rua, sem nos termos tocado uma única vez; relembrar todas as memórias que não vivemos, as em que pousa a sua mão suavemente na minha face e me acaricia a barba por aparar nas manhãs em que chove de uma maneira torrencial e o trabalho fica para depois.
E os nossos filhos (?) que crescem em cada frase, que nome lhe daria? Pensei em ter uma garota para que fosse moldada à imagem da mãe, vivermos numa casa com vista para o mar, ensiná-la a surfar (logo eu, que nunca toquei numa prancha e sempre achei que a areia me fazia comichão nos pés). Mas gosto do sol e do pensamento em como ela ficaria divinal ao ser iluminada por cada raio de sol com cheiro a maresia.
A única característica que não lhe consigo dar é a profissão... por mim ficaria em casa a ser a minha arte, a musa dos meus rascunhos, contudo, quero que seja feliz e que se sinta realizada. Só peço para arranjar tempo para mim, que não chegue a casa exausta para me amar de volta, com demasiadas dores de cabeça para criar a nossa filha.
Ah! E, que não me troque por outro homem mais bem sucedido, com melhor aparência e uma carteira mais composta, sem a mania de rabiscar qualquer pedaço de papel.
Olhem bem para mim, ela nem existe e eu já morro de medo de a perder.

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