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sábado, 5 de novembro de 2016

monólogos de metro

Parei no metro durante cinco minutos para descansar os pés dos saltos que me havia arrependido de os ter comprado logo no dia, mas a ostentação falou mais alto que o bom senso. Ao meu lado havia uma rapariga, aspeto desleixado mas uma beleza estranha que me viciou o olhar, parecia triste. Quando desviei o olhar ela interrompeu o silêncio sem que eu esperasse.
"Sabes? Sempre gostei de sentir o olhar dele sobre mim cada vez que me julgava distraída. Não achas o mesmo? Nunca gostaste de sentir alguém dentro de ti sem que te tocassem fisicamente?"
Parei para pensar mas não me surgiram palavras para uma resposta. Entretanto ela levantou-se e continuou a discursar com o ar, dançando ao som de música nenhuma.
"Nunca! Mas nunca te deixes levar pelas pessoas que te fazem pensar que és uma pessoa indigna de ser amada. Eu já caí nesse erro. Já me deixei ser levada por uma mão que me guiava em direção a uma tempestade da qual não tinha forças para sair. Já lhe chamei amor."
Vidrei-me naquela conversa enquanto acendia um cigarro e lhe oferecia outro. Ela aceitou e agradeceu com um aceno e um sorriso amarelado, contudo, bonito.
"Este foi o nosso "conto", mais de almofadas do que de fadas, sem magia nem química, só uma força que me impedia de virar costas e seguir caminho. Começou com um belo início e até que continuou com uma batida viciante, de alguma forma, pelo meio, o enredo ficou meio confuso e já não lutávamos pelos mesmo interesses, procurávamos apenas uma felicidade egoísta..."
Interrompi: "Mas...?"
"Mas eu atirei-me de cabeça! Atirei-me e senti o impacto, o frio... cheguei até a ter medo de não conseguir sair por conta própria... bem, e não fui capaz. Mas o corpo dele aquecia-me então deixei-me ficar confortável. Mas... o que eu preciso não é físico."
Apagou o cigarro e sentou-se à minha beira.
"O que eu preciso é de coragem para entender que não preciso de ficar confortável no meio duma tempestade."
As portas do metro abriram.
A rapariga entrou, "preciso de descobrir onde é que me sinto em casa", segui-a com o olhos até a perder de vista.

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