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quarta-feira, 1 de junho de 2016

dias nada especiais

A sujeito número um abre a porta desajeitadamente, cambaleando pelo apartamento dentro, desejosa de se livrar dos saltos altos tortuosos. Assim que possível atira-os agressivamente para dentro do armário desorganizadamente organizado, a roupa de inverno amontoada amortece-lhes a queda. Livra-se do apertadíssimo vestido e permanece imóvel diante do espelho, apreciando cada contorno defeituoso da sua pele, ao início agrada-lhe mas rapidamente ganha-lhes repulsa e vira costas. Dirige-se à cozinha e enche um copo de vinho tinto oferecido, do mais caro, afinal era um dia especial. Degustou-o e sentiu uma leve sensação de prazer misturada com o sabor de quem lhe tinha proporcionado uma boa noite num canto da discoteca onde estivera. Sentia falta do sujeito número dois e nem sabia o seu nome. Livrou-se do pensamento acendendo um cigarro amassado. O fumo dava-lhe a ilusão que os problemas se dispersavam conforme este ia desaparecendo. Permanecia nua. Fumava e bebia estendida no sofá com um leve arrependimento por não ter passado a noite estendida e nua no sofá do sujeito número dois, ou então, por não o ter convidado a estender-se nu no seu sofá, no seu corpo. Acabou o vinho sem dar conta e o maço já estava vazio quando desejou mais um. Lembrou-se de um pormenor: amanhã seria um novo dia, ela compraria mais cigarros e abriria outra garrafa; iria se cruzar com um possível sujeito número três.
Afinal não era um dia especial, era um dia como todos os outros.

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