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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Imagem, o falso do reflexo

Já me deixei consumir por corpos, já me bebi até ao limite e já enchi os pulmões com o ar que não devia... mas não consigo.
Não consigo preencher o vazio que foi aumentando com o passar dos anos, com a acumulação dos danos. Não consigo valorizar o que tenho, o que me deram, o que não estimo mas guardo, se continuo focada no que não posso nem pedir às estrelas que caiem diante de mim.
Hipnotizo-me pela imagem desconcentrada do espelho que me reflete, sou assombrada pelo que não quero ver, vendo os olhos e ignoro os defeitos, as imperfeições representadas nos meu rosto, rosto que já conheceu a maturidade mas que decidiu pô-la de parte.
O passar das horas reflete-se nas mãos adolescentes que se vão enrugando e nos olhos que vão perdendo a vitalidade da tenra idade, devido a desavenças e desgostos que os dias mais frios trazem.
O que sinto também se reflete no espelho, deixo que se amarrem à imagem e não à pessoa que sou, ao viveiro emocional que me tornei, sempre com a possibilidade de me perder recuo dois passos do abismo, tranco-me e atiro as chaves ao mar.
O calor do meu ser também se dispersa de mim, o ar que me envolve queima e um coração que antes escaldava agora congela a alma amarrotada e remendada. Esta vagueia refletida no pobre reflexo por entre os cantos do espelho, tentando escapar.
Peço, com o coração nas mãos, que não me partem o espelho.

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